CICLÓPICO OLHO

Veloz na apreensão do poético nas sucessivas vicissitudes do real, assim caracterizei eu, espontaneamente, a atitude de Horácio Costa perante a própria vida e a dos outros. Mas também veloz no processo de transformação dessa apreensão em poesia escrita. Assim transparece perante o leitor uma visão simultaneamente caleidoscópica e rigorosa, feita de surpreendentes intuições e imagens. Ler a poesia de HC é por isso, sempre uma aventura positiva, feita de surpresas e voos de Ícaro, arriscados e belos. É que o referido processo de transformação do volátil poético em texto poema, profundamente enraizado no conhecimento de suas próprias leis, vai-nos oferecendo uma estrutura caudalosa de variações estéticas, muitas vezes inusitadas, muitas vezes aproximando-se de uma proto oralidade erudita, outras de uma metaconstrução crítica. E na oscilação entre estes dois pólos, reside talvez a sutileza e o segredo desta poesia. Poesia vigorosamente contemporânea, no que o contemporâneo tem de instável e absurdo, mas também de inevitável e abismal. Neste Ciclópico olho de 2004 (que ficou até agora inédito, entre o anterior Quadragésimo de 1999, e os posteriores Paulistanas & Homoeróticas de 2007, e Rave nalas de 2004 a 2008) é o pendor estilístico da referida proto oralidade que predomina através do verso curto e rápido, como que para fixar o efêmero das mencionadas vicissitudes do real e suas transformações. Situação narrativa que é sistematicamente reforçada pelo registro do local e da data da escrita de cada poema. Esta preocupação espacial / temporal leva o leitor a tentar reconstruir ou reconhecer emocionalmente o substrato existencial de toda esta poesia, de que no caso do presente livro, no último poema, nos é dada, entre possíveis outras, uma chave que para mim elejo preferencialmente