Direito ao desenvolvimento – arqueologia de um dispositivo na subjetivação de crianças e adolescentes
Eduardo Rezende Melo
Este livro é resultado de um cotidiano de trabalho profundamente comprometido com a defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
É, sim, um trabalho teórico: como todo excelente trabalho teórico, deriva de muitos anos de prática como juiz, com seus encontros e desencontros, impasses e experimentações.
Aqui temos um fecundo enlace com a filosofia, com a sociologia, a psicologia e a psicanálise, com a antropologia e com a ciência política. Se o direito é o ponto de partida – e o ponto de chegada – a possibilidade de sua problematização se dá a partir do campo ampliado proveniente das várias perspectivas adotadas. Assim, a prática jurídico-política ganha em amplitude e novos caminhos são possíveis.
O livro tem como eixo a reflexão sobre as inter-relações entre o direito ao desenvolvimento e as formas de subjetivação, ou seja, as formas pelas quais as crianças e adolescentes são levadas a se constituir como sujeitos. Estas indagações questionam a suposta neutralidade política do desenvolvimento como ideal político-econômico. Questionam, igualmente, a suposta naturalização do desenvolvimento como inerente a esta fase da vida histórica e culturalmente denominada infância e juventude, como época de “maturação” individual e sociocultural.
Trata-se de um livro imprescindível que revela um autor maduro, um grande pesquisador e um cidadão engajado na busca de justiça.
(Flávia Inês Schilling)
Sumário
INTRODUÇÃO......................................................................................................21
PRIMEIROS PARÂMETROS ANALÍTICOS: DISCURSO, ARQUIVO,
DISPOSITIVO E SUJEITO..................................................................................33
CAPÍTULO 1 – O DESENVOLVIMENTO NA SUBJETIVAÇÃO
JURÍDICO-POLÍTICA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA
PROBLEMATIZAÇÃO DISCURSIVA..............................................................53
1.1 Desenvolvimento na normativa específica à infância:
ECA e Convenção............................................................................................53
1.2 A Declaração das Nações Unidas sobre o direito ao desenvolvimento e
seus campos de tensão.....................................................................................66
1.2.1 O debate em torno do objeto do direito ao desenvolvimento
na Declaração.........................................................................................66
1.2.2 O debate em torno da dimensão individual ou coletiva do
direito ao desenvolvimento e as prática dele decorrentes................71
1.3 Crianças e adolescentes e os vários desenvolvimentos em disputa...........80
CAPÍTULO 2 – HOMO OECONOMICUS, SUJEITO DE INTERESSE E A
SUBJETIVAÇÃO (NEO)LIBERAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES:
PRODUTIVIDADE E PROJETIVIDADE...........................................................83
2.1 Desenvolvimento como liberdade? A abordagem exemplar de
Amartya Sen......................................................................................................84
2.2 Homo oeconomicus, sujeito de interesse e a liberdade como
empreendimento: a análise foucaultiana.......................................................94
2.3 A produtividade da infância e a educação (neo)liberal............................101
2.4 Projeto como liberdade e o apagamento da política.................................106
2.5 Excurso prático-reflexivo: o projeto e os planos individuais de
atendimento...........................................................................................................119
CAPÍTULO 3 – O SOCIAL ATRAVESSADO PELA INFÂNCIA:
NORMALIZAÇÃO E SUBJETIVAÇÃO DISCIPLINAR NO ESTADOPROVIDÊNCIA....................................................................................................
131
3.1 A emergência do social.................................................................................132
3.2 A normalização e os dilemas da igualdade no direito social...................134
3.3 Serialização e subjetivação disciplinar........................................................144
3.4 A crise do Estado Social e a problematização do progresso.....................149
CAPÍTULO 4 – OS IMPASSES COLIGATIVOS DAS LUTAS
POR SUBJETIVAÇÃO JURÍDICO-POLÍTICA DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES EM TORNO DO DESENVOLVIMENTO:
DIREITOS HUMANOS, CAPACIDADE E PARTICIPAÇÃO.......................155
4.1 Razão e exclusão: os impasses do reconhecimento de crianças e
adolescentes e pessoas com deficiência como sujeitos de direitos..........157
4.2 Desdobramentos da luta por reconhecimento de direitos por
crianças e adolescentes e pessoas com deficiência na
contemporaneidade.......................................................................................160
4.3 Martha Nussbaum, o enfoque das capacidades e seus limites em
relação a crianças e adolescentes.................................................................172
4.4 Nancy Fraser, limites e potencialidades da paridade participativa a
crianças e adolescentes..................................................................................182
CAPÍTULO 5 – O HORIZONTE CRÍTICO AO PROGRESSO (E AO
DESENVOLVIMENTO) E A BUSCA PELA POLÍTICA E POR UMA
SUBJETIVAÇÃO OUTRA...................................................................................201
5.1 Entre o consentimento governamental e a pressuposição de
igualdade política: perspectivas para a subjetivação jurídico-política
de crianças e adolescentes no pensamento de Jacques Rancière.............205
5.2 Para além de projeto e progresso, a afirmação da potência crítica da
infância............................................................................................................219
5.3 A justa em torno do desenvolvimento: atualidade do acontecimento,
cesura e diferenciação ético-política...........................................................229
CAPÍTULO 6 – CRIANÇAS E ADOLESCENTES: JUSTIÇA,
RESISTÊNCIA E AS TENTATIVAS DO POSSÍVEL.......................................243
6.1 Da indizibilidade da lei à luta aporética por justiça..................................246
6.2 Judith Butler: vulnerabilidade e resistências e a reversão do
modelo protetivo............................................................................................262
À GUISA DE CONCLUSÃO...............................................................................287
REFERÊNCIAS......................................................................................................301
ISBN: 978-65-86255-44-7
Formato: 16x23 cm
Paginas: 322
Preço:R$ 60,00